11/09/2025
Uma espécie originária do oceano Indo-Pacífico e identificada no Ceará pela primeira vez em 2022, o peixe-leão tem se espalhado pelo litoral brasileiro. Com rápida reprodução e sem predadores naturais, ele chama atenção de pesquisadores pelo potencial para causar diversos tipos de danos, incluindo riscos à saúde humana quando usado para fins alimentares.
Uma pesquisa realizada por pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) analisou 50 peixes-leões encontrados no litoral cearense. Publicado no último mês de fevereiro na revista científica “Exposure and Health”, o estudo aponta que foram encontrados 19 elementos químicos nos animais, entre eles alguns que podem ser nocivos ao ser humano, como arsênio, chumbo e mercúrio.
Foram analisadas espécimes capturadas em localidades com maiores ocorrências, como Bitupitá — na cidade de Barroquinha —, Camocim, Jijoca de Jericoacoara, Cruz, Acaraú e Itarema, incluindo o estuário Timonha-Ubatuba, o Rio Coreaú e o Rio Acaraú. Com isso, a presença dos elementos foi investigada em animais que vivem em diferentes tipos de ambientes — fundos não consolidados (como mangues), recifes naturais e recifes artificiais.
O estudo também mostra que a presença dos elementos variou de acordo com o habitat onde vivia o peixe-leão analisado. Aqueles capturados em ambientes de recifes naturais tinham maior concentração de mercúrio, enquanto os que foram encontrados em recifes artificiais acumulavam mais chumbo.
“Esses resultados sugerem que não podemos generalizar e que, dependendo do local onde o organismo é capturado, seria oportuno fazer análises prévias para poder dizer se pode ou não ser consumido”, afirma o doutor em Biologia Marinha Tommaso Giarrizzo, professor visitante sênior do Labomar e responsável pela pesquisa.
Ao abordar os riscos à saúde pela exposição a elementos encontrados em exemplares do peixe-leão no Ceará, a pesquisa cita, por exemplo, informações da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre os riscos do consumo de mercúrio acima do limite determinado para mulheres grávidas e em idade fértil, crianças pequenas e pessoas com algumas deficiências nutricionais.
“Mercúrio elementar [metálico] e metilmercúrio são tóxicos para os sistemas nervosos central e periférico. Distúrbios neurológicos e comportamentais podem ser observados após a exposição a diversos compostos de mercúrio, e os sintomas incluem tremores, insônia, perda de memória, efeitos neuromusculares, dores de cabeça, disfunção cognitiva e motora, além de toxicidade renal”, informa o artigo do Labomar.
Já o chumbo representa risco especificamente à saúde de crianças, podendo causar “danos graves ao cérebro e ao sistema nervoso central” em casos de exposição a níveis “extremamente altos”.
“Mesmo em baixas exposições, sem sintomas aparentes, o chumbo pode prejudicar irreversivelmente o desenvolvimento cerebral infantil. (...) [Ele] também está associado a anemia, hipertensão, problemas renais, imunotoxicidade e danos aos órgãos reprodutivos”, escrevem os pesquisadores.
A MAF (quantidade máxima de peixe) estimada, no entanto, indicou que o consumo de peixe-leão por crianças pequenas requer atenção e que uma redução na frequência (cerca de 15 g por dia ou 100 g por semana) pode ser recomendada para permanecer dentro dos limites da dose de referência de mercúrio e chumbo, enquanto, para adultos, o consumo de peixe-leão requer uma redução para cerca de 50 g dia ou 350 g por semana, preferencialmente de peixe capturado em ambientes de fundo não consolidado.
Ter essas informações é importante porque o avanço do peixe-leão precisa ser controlado, uma vez que a espécie invasora é uma ameaça às espécies nativas e ao equilíbrio do ecossistema marinho. E uma das estratégias para realizar esse controle é exatamente a promoção do consumo humano. “No Caribe, por exemplo, existem festivais de gastronomia com peixe-leão”, exemplifica Giarrizzo.
Mas o estudo do Labomar aponta que, no Brasil, é necessário fazer análises prévias. “Especialmente nas áreas mais próximas das habitações, é necessário e relevante fazer avaliações de possível contaminação, porque é um peixe invasor, do qual não conhecemos nada e não sabemos quantos desses contaminantes ele pode acumular e quanto disso pode, portanto, ser transferido para o consumidor final”, alerta.
Fonte: Diário do Nordeste